sexta-feira, outubro 28, 2005

Além do Real Imaginário (com drogas)

Imagine um mundo sem feições! Sem prédios, rostos, carros, mulheres, homens. Imagine um mundo onde o material não existe. Existem apenas as palavras, e suas definições não se aplicam a objetos visuais. Você consegue fazer isso? Deixe-me ser mais claro. Imagine que, ao “ver” a vagina de uma mulher, você não recepcionará a imagem de uma vagina em seu cérebro, mas sim a palavra vagina no contexto mulher! Got the picture, motherfocker?
Pois era nesse tipo de mundo que Johnny Eastmint se encontrava. Lá estava ele, em seu caddy 73 andando pela surreal L.A., quando avistou uma placa com os seguintes dizeres: “As piranhas mais ferozes do mercado AQUI”. Little John Mentaleste foi então averiguar a procedência das piranhas. Parou sua caranga no estacionamento da loja de conveniências e foi ter com o gerente.
Quentin Always Smiling, o gerente, disse que aquelas piranhas ferozes vinham da arredada Amazônia, noroeste brasileiro, onde não se acham as melhores bundas do país, mas pode-se pilhar prazer com certa facilidade. Johnny B. Good quis saber o quão ferozes eram as piranhas que ele pretendia comprar. Colocou o dedo na boca de uma delas, sentiu algumas mordiscadas de leve, gostou da sensação, ficou rijo, mas passou adiante.
Em um outro aquário, voltou a testar o método. Dessa vez sentiu uma lambidela de leve. A piranha não mordia. Não era bem aquilo que ele queria. A primeira das duas mordia, mas não tinha as formas da segunda.
Aquilo tudo começou a soar bizarro para nosso longânime amigo. Ele não resistiu e teve de perguntar ao administrador. “Que tipo de lugar é esse?”
Ora, meu camarada! – disse o manager – Este é o primeiro puteiro construído dentro de um aquário!
Johnny se viu comendo peixe do cu da piranha, e pensou com si próprio: "Alucinógenooooos...!"
Havia se drogado novamente...

sábado, outubro 22, 2005

The Worst Matrix Error Ever pt.2 (ou Medo e Delírio no Bunker)

Realmente a situação tornava-se cada vez mais escabrosa. O sono já começava a abater alguns dos nossos companheiros e os que se mantinham acesos estavam com o nível de THC extremamente elevado. O frio passava a ficar mais rigoroso, tanto que nem um esquimó residente em Urano suportaria tal temperatura.

Estávamos completamente bodiados, falando coisas totalmente sem sentido, quando de repente aparece um novo personagem nesse filme trash. Quando eu o vi de relance, pensei que era só mais um pobre e inútil morador da cidade. Mas uma análise mais aprofundada me fez reconhecer aquele rosto. Aquela fisionomia senil me era familiar. Vasculhei por alguns instantes minha debilitada memória fotográfica e logo descobri: esse cara mora no meu prédio!! Mas antes que eu pudesse esboçar qualquer reação, ele, como se tivesse o divino dom de ler pensamentos, repetiu a frase que outrora pensara: "Meu, esse cara mora no meu prédio!!".

Silêncio. Por um bom tempo permanecemos calados, tentando assimilar o que acabávamos de ver. Tentei uma saída razoável para aquela situação. Mas antes que pudesse perguntar o que ele estava fazendo ali, ele deu as costas e sumiu na escuridão. Logo, a ficha caiu. A comoção era geral. "Impossível! Sacrilégio! Blasfêmia!", era o que o público praguejava. De fato, essa situação não tinha cabimento. Qual a probabilidade de um acontecimento dessa estirpe acontecer? Talvez nem a Nasa pudesse calcular algo de tal magnitude.

Enquanto, os presentes caiam em prantos e em louvores de devoção, resolvi dar uma passada ao banheiro. Naquele santuário espiritual, comecei a refletir, questionando-me se aquilo fora real. Porém, o destino garantiu que sim. Quando saí do banheiro, me deparei novamente com aquela criatura. Era um novo duelo, dessa vez cara a cara, homem a homem. Ele me fitava incansavelmente. Eu respondia com igual rancor. Finalmente, tomei a decisão das decisões. Perguntei o que ele fazia ali e ele começou a falar coisas sem sentido, com metáforas descabidas. Novamente, quando tentei ir atrás de uma resposta mais clara, ele deu meia volta e partiu, só que dessa vez para sempre.

Talvez tivesse fugido porque nem mesmo ele soubesse o que fazia ali. Possivelmente ele estava tão atordoado quanto nós. Mas o fato é que poucos assimilavam aquilo como um fato criado pela realidade. Alguns imaginaram que aquilo fosse uma alucinação, criada por uma bad trip. Mas um dos presentes - certamente o menos sóbrio - foi mais longe. "Na certa aquilo foi um erro da Matrix", alegou. Um erro grotesco, diga-se por sinal.

O fato é que algum tempo depois nosso amigo motorizado chegou ao recinto. Não tivemos muito tempo para refletir antropologicamente daquela cena digna de um teatro medieval. Mas, sem delongas, fomos sair e encher a cara.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Temporal Veraneio – Um conto mezzo factual mezzo factício

Estava Fuser à expectativa do milagre designado “álcool”. Fizera com outros 3 comparsas uma viagem (inauguralmente geográfica, que posteriormente, pelas graças dos bebes etilistas, tornou-se espiritual) durante o feriado do dia das crianças, embora não houvesse criança alguma naquele grupo. Muito pelo contrário, todos os 4 camaradas haviam abraçado a maioridade no ano coetâneo. Todavia já não eram infantes havia muito tempo e sentiram na carne e na alma, muito antes do dia presente, o sentimento de dor e os pecados da idade adulta, cada qual com sua experiência jogada nas costas do passado nem sempre remoto.

Fuser não queria saber desses flashbacks atrabiliários (não ao menos antes de escrever o esquema dessa resenha), e para tal tragava com maestria (mas sem jenesequá) seu scotch zurrapado e a caipiroska que o amigo Grande preparara. Master arranhava na viola uma música que Grande e Fuser não conheciam, e que Joelho não ouvia (conscientemente) por estar dormindo. Para deleite de Fuser, o hausto foi direto ao cérebro. Ele respirou, delirou e indagou aos outros três qual a verdadeira mística do local onde estavam:

- De certo hei de ser Piros, o espírito pagão do fogo! – rebateu Master.
- A quebra dos valores morais. – refletiu Joelho, sem saber ao certo como chegou à conclusão.
- E você, Grande? – perguntaram os 3 – O que acha disso?
- Ora! Não vêem que estou a beber? Parem de encher meu saco e bebam vocês também! – declarou Grande com um certo tom de irritação.

Pois eu, que formulei o passa-tempo, digo a mística da viagem. Ela pouco tem a ver com o que cada um disse, mas se misturarmos todos os ingredientes desse abocamento chegaremos ao ponto intrigante da questão. Sair de São Paulo numa viagem de fim de semana gera a quebra de certos valores morais e/ou religiosos entre os aventurados. Enquanto subvertemos todos os ideais, divinos ou não, paramos para refletir sobre a vida. E sendo que a única coisa que não dividimos durante a viagem foram os nossos pensamentos e sentimentos, há de se concluir que este equilíbrio entre solitude/companhia que há na relação pensar/conviver gera a mística.

Ficamos longe do mundo, vivendo submersos em pensamentos que nos afastavam mais da sociedade deixada para trás, mas adaptamos vários ritos sociais para manter a vinculação amistosa. No fim das contas, criamos nossa própria utopia, e colocamo-la em prática por 71 horas (Na última noite nos foi roubada uma hora pelo implante do horário de verão), para depois voltarmos para nossos lares, recuperarmos nossas verdadeiras identidades e rendermos nossa micro-sociedade ao utópico novamente.

quinta-feira, outubro 13, 2005

The Worst Matrix Error Ever pt.1 (ou como me tornei Mestre)

Os erros da Matrix são uma constante na vida humana. Analistas dizem que eles existem desde que o mundo é mundo, mas só ganharam o reconhecimento devido em 1999. Porém, certos erros são tão bizarros, tão hediondos, que certamente mudam toda uma concepção natural de mundo.

Esse fato tem-se início na longiqua Guaratinguetá, onde eram realizados o XII (ou XIII na contagem extra-oficial) Jogos Universitários de Comunicação e Artes, também conhecido como JUCA. Era uma quinta-feira gelada de Maio, onde alguns poucos presentes se encontravam no muquifo apelidado de república para estudantes. Era um ambiente rodeado por substâncias ilícitas e por pessoas tão excentricas que fariam Hunter S. Thompson se revirar na cova.

O pequeno grupo de pessoas contabilizava em 7 indivíduos, nenhum em estado formidável de pensamento. Estavamos lá por uma causa nobre: esperar um dos nossos parceiros chegar ao recinto para irmos à balada. Enquanto viajamos por causa dos gritos estridentes de Janis Joplin, cujo cd tocava num carro misterioso do lado de fora da casa - bom, a verdade é que ninguém teve forças para ir lá ver de quem era -, ficávamos fisicamente inertes, com os pensamentos para si. Até que resolveram conversar sobre uma bobagem qualquer. Num nível de demência sem tamanho, começamos a falar sobre um mundo utópico regido por engradados de cerveja e afins (um lugar melhor para se viver, diga-se de passagem, mas isso é tema para um outro tópico). Mas, pouco tempo depois, nossa conversa encerrou-se e tivemos que voltar àquela situação constrangedora anterior, só que sem um som ambiente para embalar nossas cabeças.

Então, eis que, repentinamente, o som de uma gaita rompe o silêncio. As teorias não demoram a aparecer. Será um fantasma? Será o espírito de um prisioneiro de Alcatraz? Será Bill, depois de abandonar sua flauta e as espadas Hattori Hanzo? Provavelmente não, pois um dos residentes logo revelou ser o autor da melodia, mostrando sua pequena harmônica. Porém, isso em nada alegrou as nossas almas. "É nessas horas que dou valor a um PLaystation com Winning Eleven", disse um dos presentes. "Até tinhamos, mas emprestamos pra uns caras aí", salientou o residente da casa. Realmente era uma quinta-feira estranha de Maio. Mas isso era só o começo da noite... (continua)

terça-feira, outubro 04, 2005

Todo Carnaval tem seu fim

Lembro-me do carnaval de dois mil e dois asteriscos (20**). Eram tempos de pura ousadia. Chamavam-me de alcoólatra. O amigo que sempre me acompanhou chamavam de drogado. Na minha modesta opinião, ele era um natureba. O que vem ao caso é que naquele fatídico dia de fevereiro meu fígado sofreu o ataque mais horrorshow de todos os tempos. Por incrível que pareça, é exatamente por isso que me lembro da data em questão.
Não sei explicar ao certo, mas acho que este segundo mês do ano é um tanto...cabalístico. Houveram outras experiências de carnaval como esta (não com a mesma intensidade, devo admitir) e posso dizer que sempre estive à frente do meu tempo. Não se trata de precocidade. Trata-se de encarar a vida com os bagos depois que ela te deu a cartada final. Aparentemente só consegui me desligar de sentimentos e blefar para a vida no mês 2.
Mas enfim, as coisas não iam bem para mim (o alcoólatra) nem para Romanzo (o natureba). Sem convites de ninfômanas para viajar para os campos rebeldes do sexo e rock n' roll (sim, rock n'roll no período crítico da apoteose do samba) e com os amigos alheados em sede carnal, tivemos que aceitar a proposta do camarada de um conhecido nosso de fanfarrear ao maior estilo Zeca Pagodinho (na conotação da bebida, e não da música). Eu aceitei de prontidão, enquanto Romanzo se questionava sobre a legitimidade de um green day perfeito, e como isso o deixaria feliz.
O habitus me disse que, como convidado, deveria levar algumas bebidas. Não hesitei em comprar duas garrafas de vodka (R$6,00 - sim, era vagabunda), dois engradados de cerveja (R$22,00) e um bom uísque barato e lucrativo (R$7,00 – uma bagatela). Encher a lata não tem preço. O que estava por vir surpreendeu a todos. Na casa do camarada havia bebida pra 5 carnavais (2 fora de época e 3 in lócus). Uma quantia relativamente grande, tendo em vista que éramos 7 (sem brincadeiras, ok? Nada de lembrar de novelas escrotas).
Lembro das coisas que fiz, porque quem não lembra é quem não quer admitir que fez merda. Tenho a consciência limpa. Não caguei no pau. Lembro do momento em que os desfiles das escolas de samba começaram, e surgiu a brilhante idéia de assistirmos "Os Normais" em Digital Video Disc. "Infelizmente" ocorreu um "problema de fiação" e tivemos que postergar o lampejo divinamente escroto do colega. O problema ao que me referi não tem nenhuma ligação com curtos-circuitos. Estou dizendo apenas que a TV não tinha contraste de cores, e nostalgicamente reproduzia imagens no bom e velho B & W.
Lembro que admiramos perplexos a capacidade de um dos amigos em criar anéis de fumaça quando exalava seu Marlboro Red. Lembro que Romanzo não conseguiu seu dia verde, mas se contentou com a birita que lá ingeriu. Lembro que ao voltar para casa paramos eu e Romanzo em frente ao prédio dos amados vizinhos, para que pudéssemos praguejar em alto e bom som tudo o que pensávamos sobre eles. Alguns gostaram. Acharam melhor que serenata de amor. Outros estavam muito ocupados fodendo acompanhantes pelas quais contrataram serviços especializados. Lembro-me de ter mandado saudações e juras de amor para um número de telefone que nunca havia antes discado. Lembro-me de ter chegado em casa e deitado na cama. Lembro-me de ver o quarto rodando antes e depois de fechar os olhos, até a hora que dormi.

Foi aí que me lembrei que todo carnaval tem seu fim.