domingo, março 26, 2006

A Invasão Vermelha versão Ivan Ivanov-Vano

Nos gélidos anos da Guerra Fria, o mundo foi divido em duas visões ideológicas: o capitalismo americano, que representa a liberdade, o moderno, a democracia; e o comunismo soviético, cuja face se assemelha à clausura, ao ultrapassado, à repressão. Lógico que essa era a visão que vinha pra cá (a nossa digna América Latina) trazida por fontes "seguríssimas" de oficiais da inteligência americana - os mesmos os quais ajudaram a implantar uma ditadura militar na região.

Por isso, sempre vimos os camaradas bolcheviques como um bando de comunistas sujos adoradores de satã. E também é por isso que a cultura soviética ficou muito restrita no resto do mundo. Enquanto o planeta inteiro se divertia com as estripulias dos Looney Toones e do pseudo-surrealismo da Disney, uma série de experimentos com animação eram feitos na União Soviética.

No princípio, a animação soviética teve um braço político. O ditador Josef Stalin queria concorrer em qualidade com os estúdios americanos, além de integrar a população à causa revolucionária. Mas à partir anos 50, o país viu uma nova geração de animadores ascenderem. Adeptos de um estilo menos político e mais social, mostrando os contrastes do Ocidente e usando de temáticas mais adultas, a animação soviética passa a se destacar, a ganhar prêmios e a influênciar alguns aspectos da animação ocidental.

Pois bem, no dia 14 de março, o Sesc Ipiranga ofereceu a oportunidade para os incrédulos assistirem algumas animações clássicas, dos anos 60 e 70, deste país socialista. O fato de ser perto de casa, de ser de grátis e de ser um grande admirador de animação, me fizeram ir à primeira sessão.

Quando entrei, logo vi a quantidade diminuta de pessoas na sala de cinema. Acho que não passavam de mais de dez gatos pingados. Também notei que, mesmo sendo de tarde (às 15h30), não havia sequer uma criança no recinto.

Enfim, começa-se a sessão. O primeiro filme, feito em Stop-motion, conta a história de Francisquinho, um garoto contestador que quer mudar toda uma forma conservadora de se pensar. No caso, seu professor ensina uma técnica de pintar vidros com tinta branca. Mas Francisquinho nota que, usando as outras cores, a arte fica mais bonita. Aí então, seu professor passa a repreende-lo.

Já "Rua de Chita" conta a história de uma menina que precisa de uma roupa para ir à uma festa. Ela vai à loja comprar uma, porém as roupas acabam se recusando a vestir uma menina maltrapilha. Então, com a ajuda de um floco de algodão perdido ela passa a produzir sua própria roupa, através das máquinas de tecelagem falantes.

No terceiro filme, chamado "Procuramos um borrão", um menino e uma menina vão atrás de um borrão que está trazendo a desordem e o caos no caderno de desenhos do pai. Para tal, eles são transformados em desenho, com o poder de atravessar as páginas.

Em "Corre Riacho", um riacho nasce e sai banhando toda uma floresta. No trajeto, o riacho ajuda e é ajudado por vários animais, todos felizes pelo benefício da água. Mas um sapo individualista e capitalista tenta tomar somente para si o riacho e é confrontado pelos outros animais.

O último filme é "Moda, Moda", de longe um dos melhores do dia. Conta, de forma hilária, a história e as contradições da moda. Tudo começa quando os pré-históricos passaram a usar folhas e roupas de pele animal para cobrir-se e diferenciarem do restante. Daí pra frente, a crítica é ácida, mostrando o falso moralismo na moda feminina, o culto às celebridades do cinema e a padronização. Dessa forma, nos mostra de maneira simples, que somos meras vítimas da moda - tal qual o pré-histórico que não conseguiu matar um animal com pele.

No geral, não gostei de uma coisa: os desenhos eram pessimamente mal-dublados. Pareciam aquelas traduções simultâneas de entrega de Oscar. Mas em compensação, teve duas coisas que eu gostei: o primeiro foi que, antes de cada animação, é mostrado um edital do Ministério da Justiça - mais exatamente do Departamento da Censura - com o nome do filme. A exceção é o "Corre Riacho". A segunda coisa, é que depois do terceiro filme, o homem do projetor teve que mudar o rolo de película. Assim, ficamos uns dois minutos no claro, sem ter o que fazer. Nada mais old-school do que isso.

terça-feira, março 21, 2006

Eu vi o Choque-Rei pt 2 (tudo acaba como deve)

25/05/2005.Há aproximadamente 13,3 milhões de pessoas no Brasil que vibrem muito ao lembrar a data. Desta que é a terceira maior torcida do país, 50 mil pagantes podem dizer orgulhosos que apoiaram seu time incessantemente no estádio durante os 90 minutos de jogo (mais 6 de acréscimos). Talvez os mais difíceis da Libertadores 05, só não superando os 90 iniciais da semi-final contra os Gallinas, que são tão ousados quanto a legião tricolor (a ponto de questionar a autoridade policial), mas que se difere no fato de não apoiar a tropa de elite que era o São Paulo escalado contra os porcos: Rogério Ceni; Cicinho, Fabão, Lugano e Júnior; Renan, Mineiro, Josué e Danilo; Grafite e Luizão, comandados por Paulo Autuori. Talvez não fosse muito, mas sem dúvidas era o suficiente para bater o fraco Palmeiras que entrava em campo com Marcos; Nen, Daniel e Gabriel; Correa, Alceu, Magrão, Juninho Paulista e Lúcio; Marcinho e Washington mais Paulo Bonamigo, o técnico.
Ainda longe da grama verde (redundância?), logo que achamos uma vaga livre de flanelinhas (que cobram abusivos 10 reais em dia de clássico) estacionamos os dois carros em que estávamos. 10 fanáticos por São Paulo, o time, até porque dois nem eram da nossa terra. Saímos do carro com plena confiança (em relação à segurança), afinal de contas havíamos sido "escoltados" por policiais que abriam caminho para a torcida visitante. Vida ou morte de fato. Caso nos vissem haveriam estragos (para os dois lados). Mas a preocupação acabava
quando todos entravam no Cícero Pompeu de Toledo. Ou não... Segurança à parte, ainda havia uma partida de futebol à se desfechar.
Setores vermelhos, azul e laranja, mais a arquibancada amarela reservada para os torcedores do time bom. Numerada e geral amarela transformada em chiqueiro. Lá 10 mil seriam abatidos mais tarde, mas enquanto a bola rolava tudo era um grande drama. Ou um filme violento, na interpretação dos números, pois foram distribuídos 8 cartões amarelos e um vermelho. Este último para Josué, o que nos deixou apreensivos.
Com a vantagem de ter vencido o primeiro jogo por 0x1, o tricolor precisava de um empate, mas o time jogou pra ganhar, e a torcida gritou como quem queria goleada, o que, em parte, era verdade. Qualquer grito de guerra parecido com um coincho logo era abafado por nós, que aprendemos dos hermanos métodos para apoiar o time em tempo integral.
Apesar de termos uma parcela no bom rendimento do time, foi dentro de campo que mostramos a supremacia de nosso plantel, do goleiro ao atacante reserva (sendo que o primeiro transformou em vantagem a penalidade máxima alcançada pelo segundo), sem desmerecer o (ex)lateral/ala direito, que marca gols em nosso rival tanto quanto um boiadeiro demarca seu gado.
Realmente, no Morumbi o bixo pega. Mas tudo não passa de uma questão de justiça... Se é por meio da justiça que o melhor deve ganhar, por que não o São Paulo? Se é justo que um resultado final agrade o maior número possível de torcedores, por que não o glorioso tricolor? Só sei que na quinta-feira tinha mais gente feliz do que porcos tristes, e eu, que tomei um porre de felicidade, que só fui dormir às três da manhã, EU, que vi (e sobrevivi) ao choque-rei, era só sorrisos.