Todo Carnaval tem seu fim
Lembro-me do carnaval de dois mil e dois asteriscos (20**). Eram tempos de pura ousadia. Chamavam-me de alcoólatra. O amigo que sempre me acompanhou chamavam de drogado. Na minha modesta opinião, ele era um natureba. O que vem ao caso é que naquele fatídico dia de fevereiro meu fígado sofreu o ataque mais horrorshow de todos os tempos. Por incrível que pareça, é exatamente por isso que me lembro da data em questão.
Não sei explicar ao certo, mas acho que este segundo mês do ano é um tanto...cabalístico. Houveram outras experiências de carnaval como esta (não com a mesma intensidade, devo admitir) e posso dizer que sempre estive à frente do meu tempo. Não se trata de precocidade. Trata-se de encarar a vida com os bagos depois que ela te deu a cartada final. Aparentemente só consegui me desligar de sentimentos e blefar para a vida no mês 2.
Mas enfim, as coisas não iam bem para mim (o alcoólatra) nem para Romanzo (o natureba). Sem convites de ninfômanas para viajar para os campos rebeldes do sexo e rock n' roll (sim, rock n'roll no período crítico da apoteose do samba) e com os amigos alheados em sede carnal, tivemos que aceitar a proposta do camarada de um conhecido nosso de fanfarrear ao maior estilo Zeca Pagodinho (na conotação da bebida, e não da música). Eu aceitei de prontidão, enquanto Romanzo se questionava sobre a legitimidade de um green day perfeito, e como isso o deixaria feliz.
O habitus me disse que, como convidado, deveria levar algumas bebidas. Não hesitei em comprar duas garrafas de vodka (R$6,00 - sim, era vagabunda), dois engradados de cerveja (R$22,00) e um bom uísque barato e lucrativo (R$7,00 – uma bagatela). Encher a lata não tem preço. O que estava por vir surpreendeu a todos. Na casa do camarada havia bebida pra 5 carnavais (2 fora de época e 3 in lócus). Uma quantia relativamente grande, tendo em vista que éramos 7 (sem brincadeiras, ok? Nada de lembrar de novelas escrotas).
Lembro das coisas que fiz, porque quem não lembra é quem não quer admitir que fez merda. Tenho a consciência limpa. Não caguei no pau. Lembro do momento em que os desfiles das escolas de samba começaram, e surgiu a brilhante idéia de assistirmos "Os Normais" em Digital Video Disc. "Infelizmente" ocorreu um "problema de fiação" e tivemos que postergar o lampejo divinamente escroto do colega. O problema ao que me referi não tem nenhuma ligação com curtos-circuitos. Estou dizendo apenas que a TV não tinha contraste de cores, e nostalgicamente reproduzia imagens no bom e velho B & W.
Lembro que admiramos perplexos a capacidade de um dos amigos em criar anéis de fumaça quando exalava seu Marlboro Red. Lembro que Romanzo não conseguiu seu dia verde, mas se contentou com a birita que lá ingeriu. Lembro que ao voltar para casa paramos eu e Romanzo em frente ao prédio dos amados vizinhos, para que pudéssemos praguejar em alto e bom som tudo o que pensávamos sobre eles. Alguns gostaram. Acharam melhor que serenata de amor. Outros estavam muito ocupados fodendo acompanhantes pelas quais contrataram serviços especializados. Lembro-me de ter mandado saudações e juras de amor para um número de telefone que nunca havia antes discado. Lembro-me de ter chegado em casa e deitado na cama. Lembro-me de ver o quarto rodando antes e depois de fechar os olhos, até a hora que dormi.
Foi aí que me lembrei que todo carnaval tem seu fim.
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