Temporal Veraneio – Um conto mezzo factual mezzo factício
Estava Fuser à expectativa do milagre designado “álcool”. Fizera com outros 3 comparsas uma viagem (inauguralmente geográfica, que posteriormente, pelas graças dos bebes etilistas, tornou-se espiritual) durante o feriado do dia das crianças, embora não houvesse criança alguma naquele grupo. Muito pelo contrário, todos os 4 camaradas haviam abraçado a maioridade no ano coetâneo. Todavia já não eram infantes havia muito tempo e sentiram na carne e na alma, muito antes do dia presente, o sentimento de dor e os pecados da idade adulta, cada qual com sua experiência jogada nas costas do passado nem sempre remoto.
Fuser não queria saber desses flashbacks atrabiliários (não ao menos antes de escrever o esquema dessa resenha), e para tal tragava com maestria (mas sem jenesequá) seu scotch zurrapado e a caipiroska que o amigo Grande preparara. Master arranhava na viola uma música que Grande e Fuser não conheciam, e que Joelho não ouvia (conscientemente) por estar dormindo. Para deleite de Fuser, o hausto foi direto ao cérebro. Ele respirou, delirou e indagou aos outros três qual a verdadeira mística do local onde estavam:
- De certo hei de ser Piros, o espírito pagão do fogo! – rebateu Master.
- A quebra dos valores morais. – refletiu Joelho, sem saber ao certo como chegou à conclusão.
- E você, Grande? – perguntaram os 3 – O que acha disso?
- Ora! Não vêem que estou a beber? Parem de encher meu saco e bebam vocês também! – declarou Grande com um certo tom de irritação.
Pois eu, que formulei o passa-tempo, digo a mística da viagem. Ela pouco tem a ver com o que cada um disse, mas se misturarmos todos os ingredientes desse abocamento chegaremos ao ponto intrigante da questão. Sair de São Paulo numa viagem de fim de semana gera a quebra de certos valores morais e/ou religiosos entre os aventurados. Enquanto subvertemos todos os ideais, divinos ou não, paramos para refletir sobre a vida. E sendo que a única coisa que não dividimos durante a viagem foram os nossos pensamentos e sentimentos, há de se concluir que este equilíbrio entre solitude/companhia que há na relação pensar/conviver gera a mística.
Ficamos longe do mundo, vivendo submersos em pensamentos que nos afastavam mais da sociedade deixada para trás, mas adaptamos vários ritos sociais para manter a vinculação amistosa. No fim das contas, criamos nossa própria utopia, e colocamo-la em prática por 71 horas (Na última noite nos foi roubada uma hora pelo implante do horário de verão), para depois voltarmos para nossos lares, recuperarmos nossas verdadeiras identidades e rendermos nossa micro-sociedade ao utópico novamente.
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