Momentos em um ônibus pt. 2 (ou deus dá, deus tira)
Algumas vezes as coisas parecem dar certo. Não é essa a impressão que devíamos ter das coisas. Coisas estão sempre dando errado. É um fardo das coisas. Quando as coisas dão certo é porque parecem dar certo. Daí surge uma frase como essa aí em cima: “Deus dá e deus tira”. Essa frase, assim como o fato de as coisas darem certo, é só uma ilusão. Coisas não dão certo. Deus não dá coisas. Na verdade deus tira mais do que dá.
Outro dia “deus” resolveu me “dar”, na porta da faculdade, dois ônibus passando com destinos que eu devia tomar. “Dois! Obrigado, senhor! Que bondoso da sua parte! Que sensac... Opa!" Lá se vai o primeiro. Passando no sinal antes que eu pudesse atravessar a avenida e alcança-lo. As coisas, que pareciam estar dando certo, começavam a dar errado. Até que o farol fica vermelho e o segundo ônibus para. “Eu sabia! Poder divino! Aleluia irmão!”
Faço o cumprimento secreto e o motorista, acenando a cabeça, aprova o código e abre a porta. Vejo o cobrador. Ele olha para mim. Estou sacando algo da mão esquerda, frio, calculista. Ele gela em sua cadeirinha de couro com almofada para hemorróidas, apreensivo. Com um movimento veloz e eficaz pressiono meu cartão contra o leitor magnético. O motorista reduz a velocidade. Pingos caem da testa do cobrador. A máquina decide aceitar meu cartão. O alívio é geral.
Vou sentar no assento mais alto, onde minha posição hierárquica se sobrepõe. Tudo caminha em perfeita ordem. Tudo “parece estar dando certo” até um congestionamento abrupto se interpor em nosso caminho. Não adiantaria apelar para a divindade. Na verdade era culpa de deus que o trânsito estava daquele jeito. Mil malditos tentavam parar seus malditos carros perto daquela igreja maldita que é a Renascer que fica na Lins. Quando têm culto na Lins a avenida vira um inferno. Então, veja bem: deus não dá, mas tira. Quando não é ele que tira, alguém em nome dele tá tirando, e como nada dá certo, quando ele não tira ninguém sai muito no lucro, tirando quem tira em nome dele...
Outro dia “deus” resolveu me “dar”, na porta da faculdade, dois ônibus passando com destinos que eu devia tomar. “Dois! Obrigado, senhor! Que bondoso da sua parte! Que sensac... Opa!" Lá se vai o primeiro. Passando no sinal antes que eu pudesse atravessar a avenida e alcança-lo. As coisas, que pareciam estar dando certo, começavam a dar errado. Até que o farol fica vermelho e o segundo ônibus para. “Eu sabia! Poder divino! Aleluia irmão!”
Faço o cumprimento secreto e o motorista, acenando a cabeça, aprova o código e abre a porta. Vejo o cobrador. Ele olha para mim. Estou sacando algo da mão esquerda, frio, calculista. Ele gela em sua cadeirinha de couro com almofada para hemorróidas, apreensivo. Com um movimento veloz e eficaz pressiono meu cartão contra o leitor magnético. O motorista reduz a velocidade. Pingos caem da testa do cobrador. A máquina decide aceitar meu cartão. O alívio é geral.
Vou sentar no assento mais alto, onde minha posição hierárquica se sobrepõe. Tudo caminha em perfeita ordem. Tudo “parece estar dando certo” até um congestionamento abrupto se interpor em nosso caminho. Não adiantaria apelar para a divindade. Na verdade era culpa de deus que o trânsito estava daquele jeito. Mil malditos tentavam parar seus malditos carros perto daquela igreja maldita que é a Renascer que fica na Lins. Quando têm culto na Lins a avenida vira um inferno. Então, veja bem: deus não dá, mas tira. Quando não é ele que tira, alguém em nome dele tá tirando, e como nada dá certo, quando ele não tira ninguém sai muito no lucro, tirando quem tira em nome dele...
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