sábado, abril 21, 2007
sexta-feira, abril 13, 2007
Momentos em um ônibus pt. 2 (ou deus dá, deus tira)
Outro dia “deus” resolveu me “dar”, na porta da faculdade, dois ônibus passando com destinos que eu devia tomar. “Dois! Obrigado, senhor! Que bondoso da sua parte! Que sensac... Opa!" Lá se vai o primeiro. Passando no sinal antes que eu pudesse atravessar a avenida e alcança-lo. As coisas, que pareciam estar dando certo, começavam a dar errado. Até que o farol fica vermelho e o segundo ônibus para. “Eu sabia! Poder divino! Aleluia irmão!”
Faço o cumprimento secreto e o motorista, acenando a cabeça, aprova o código e abre a porta. Vejo o cobrador. Ele olha para mim. Estou sacando algo da mão esquerda, frio, calculista. Ele gela em sua cadeirinha de couro com almofada para hemorróidas, apreensivo. Com um movimento veloz e eficaz pressiono meu cartão contra o leitor magnético. O motorista reduz a velocidade. Pingos caem da testa do cobrador. A máquina decide aceitar meu cartão. O alívio é geral.
Vou sentar no assento mais alto, onde minha posição hierárquica se sobrepõe. Tudo caminha em perfeita ordem. Tudo “parece estar dando certo” até um congestionamento abrupto se interpor em nosso caminho. Não adiantaria apelar para a divindade. Na verdade era culpa de deus que o trânsito estava daquele jeito. Mil malditos tentavam parar seus malditos carros perto daquela igreja maldita que é a Renascer que fica na Lins. Quando têm culto na Lins a avenida vira um inferno. Então, veja bem: deus não dá, mas tira. Quando não é ele que tira, alguém em nome dele tá tirando, e como nada dá certo, quando ele não tira ninguém sai muito no lucro, tirando quem tira em nome dele...
Momentos em um ônibus pt.1 (ou Sons e sendas)
Descrever os sons que podemos ouvir em um percurso é algo imaginativo. Mas digamos que eu faça isso em um trajeto de ônibus, por exemplo, que me leve de onde estou até a faculdade. Consigo calcular este exercício da seguinte forma: Existem sons onipresentes, como o vento. Aonde quer que você vá é possível escutar o vento. Aquele assobio leve, que muda de freqüência de acordo com o trânsito. Posso deduzir, de olhos fechados, que a Avenida Paulista está congestionada pelo simples fato de o vento não atacar as janelas do ônibus. Existem também os sons irrevogáveis. Estes são monótonos. Ouvimos todos os dias. O roncar de um motor velho. O uníssono apito agudo de todas as catracas de ônibus confirmando débitos de R$2,30 de cada pessoa por passar. “Motorista, posso vender ali pro pessoal? Pega um pra você aí. Boa tarde, passageiros, desculpa incomodar sua viagem...” Toques de celular, buzinas, sirenes de ambulância, pessoas correndo para compensar o atraso. Ah, São Paulo. A impressão que se deve ter de São Paulo é, se não outra, a de que está ocorrendo um bombardeio e todos estão correndo pela própria vida, loucos, frenéticos.
Por outro lado, existem os sons infreqüentes. São de uma casualidade marcante. Nos pegam desprevenidos, mas por se desprenderem do cotidiano conseguimos lembrar deles. O som da chuva caindo forte, se chocando contra a carroceria metálica dos carros. A força do trovão. Raras exceções, quando não há trânsito em São Paulo não há muita necessidade de buzinar. A não-buzina é um som para guardar na memória.
Pra dizer a verdade, quando não aparecem esses sons casuais eu fico ouvindo música no fone de ouvido. Outro dia entrou um trovador contemporâneo no ônibus. Começou a tocar Raul Seixas: “Tente me ensinar das tuas coisas. Que a vida é séria, e a guerra é dura. Mas se não puder, cale essa boca, Pedro, e deixa eu viver minha loucura”.
Parei pra ouvir.
sábado, abril 07, 2007
Perguntas e Respostas
R: Quando a vida estiver menos monótona e alguma coisa que realmente valha a pena relatar vier a acontecer.
P: Alguma previsão?
R: Não. 2007 tem sido um companheiro insolente.
P: Mas e se as pessoas estiverem à beira do precipício esperando algo no E.E. acontecer?
R: Pula!