sábado, dezembro 30, 2006

Uma dose de Smirnoff

Experiências etílicas à parte, a dose de Smirnoff hoje não é de vodka.

A marca moscovita nascia em meados de 1860 aos caprichos de Piotr (um nome russo comum) Arsenieyevich (um nome russo difícil de escrever) Smirnov (um sobrenome russo de um cara chamado Piotr que resolveu fabricar vodka Smirnoff), e muito tempo depois, na cidade-irmã Odessa, na Ucrânia, nascia (não, não é Schvchenko, o único ucraniano que você deve conhecer...) Yakov Smirnoff.

Smirnoff (24/01/1951), para dados comparativos chulos e praticamente incomparáveis, foi para a União Soviética o que Chico Buarque foi para a nossa ditadura, fazendo-se valer de que o primeiro é comediante e o segundo dispensa apresentações. A diferença entre os dois é que o Chico falou mal para depois fugir do país enquanto o Smirnoff fugiu para depois falar mal. Se Dado Dolabella falasse algo sobre Yakov, apesar de sabermos que ninguém saberia por onde começar (agora me senti em um daqueles diálogos "Eu sei que você sabe que eu sei que você sabia, mas deixa pra lá), ele falaria mais ou menos “Você traiu o movimento comunista, cara”.

O comediante trocou seu país pela América, a terra da oportunidade, em 1977. Se tornou cidadão estadunidense em 4 de julho de 1986. Que grande puxa-saco... O pior de tudo é saber que ele alcançou grande sucesso ridicularizando seus verdadeiros compatriotas. Yakov é especialmente conhecido pela “Reversal Russa”. Não é um movimento de acepções políticas anticomunistas. Na verdade é só uma piada. Críticas à URSS e o comunismo com uso do Orwellianismo (sim, aquele George Orwell que você está pensando. Orwell, não Foreman), equivalente à manipulação da linguagem para fins políticos.

Piadas do tipo “Nos Estados Unidos, você assiste televisão. Na União Soviética, a televisão assiste você!”. Esse tipo de piada sobre o Grande Irmão e tudo o que mais valha. Só que ele usava essa frase para qualquer coisa: “Nos Estados Unidos, você fuma tabaco. Na União Soviética, o tabaco fuma você!”. A febre da Reversal Russa abriu espaço para que Smirnoff encabeçasse o seriado “What a Country”, onde se faz passar por um motorista de táxi russo que estuda para tentar ser aprovado no teste de cidadania americano.

Ele pode ter se tornado alguém célebre por criticar a única defesa do homem contra o imperialismo. Ganhou citações em Simpsons, Family Guy e King of the Hill (todos desenhos norte-americanos que tiram sarro do american-way-of-life, mas que ainda exaltam a política capitalista, como seria de praxe).

Porém, no natal de 1991, sua grande fonte de sucesso se esgotou, e por ironia da história, do destino, ou do que diabos você quiser chamar, em 2006 Yakov Smirnoff foi eleito o quarto pior comediante de todos os tempos. Hoje ele é professor da Missouri State University.

Com gente assim pra ensinar americano, um dia eles caem...

Tomara.

Para saber mais sobre a Reversal Russa, clique aqui.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Você já foi à Cesário Lange? (ou Retrospectiva 06)

Me desculpem os cesáriolangenses leitores do E.E. Este relato em nada se relaciona à essa cidade, exceto talvez pelo fato de eu ter lido este nome em uma placa de estrada. Li muitas placas, aliás, pois foi uma viagem de 8 horas até o destino. Portanto, sintam-se honrados por eu ter citado justo este nome.

A tal "Retrospectiva 06"que dá nome ao texto foi uma idéia que tive de reavaliar o ano enquanto estava no ônibus. Entretanto o apanhado não é sobre política, apesar de através dela eu ter ganhado um engradado de cerveja, tampouco é sobre futebol, mesmo que meu time tenha me deixado orgulhoso com o 4-3-3, muito menos sobre acontecimentos históricos, devido à minha abrangente concepção sobre o que realmente vêm a ser "histórico" de fato. O único retrospecto que há neste texto é, na verdade, uma avaliação sobre o MEU 06.

Diz um amigo meu que um blog não tem pretensões, e sim textos. Eu, em parte, discordo, pois escrevo imaginando que alguém leia. Para os que pretendem enxergar o meu lado da história, aí vai:

2006, assim como qualquer ano, foi uma época de aprendizado, que se revelou para mim na forma das idas e vindas. Vieram mais sucessos do que fracassos (que também foram muitos) e foram embora empenho, sangue, tempo e, por que não, dinheiro para transformar meus ideais em coisas mais palpáveis (Ficou também a ligeira impressão de que enquanto o empenho e o sangue voltarão, o tempo e o dinheiro deram o adeus definitivo).

Enfim, voltando à viagem. Passei a semana prévia ao natal em Londrina. Fui por um motivo qualquer e fiquei hospedado em uma república (Londrina é uma cidade universitária onde está a UEL). Conheci gente nova, e tão rápido quanto conheci, me despedi dessas pessoas. Mas em suma, isso me fez refletir sobre amizade e outras coisas.

Este ano aprendi algo sobre o que é certo e o que é errado, e em que realmente devemos acreditar.
Fazer do mundo algo pequeno, que só caiba na nossa cabeça, e pensar que para cada nova etapa da vida há uma barreira, seja ela intelectual, cultural, habitual ou lingüística, isso é algo errado.
Decidir seguir seus objetivos sem se importar com o que você deixa para trás, mas também sem menosprezar o que você construiu, isso é algo certo.
Pensar que, mesmo que hajam despedidas, em nossos novos desafios virão novas amizades, novas barreiras que devem ser derrubadas e novos vínculos que construiremos, isso é algo em que devemos acreditar.

Se você não entendeu o que eu quis dizer e acha que:
  1. Assim como eu, acredita que em 2006 houveram mais desencontros do que encontros nossos, ouça Beautiful Life - Francis Dunnery
  2. Passou por momentos em que estava triste quando na verdade devia estar feliz, ouça Uncle Albert/Admiral Halsey - The Wings
  3. A vida não deve ser levada tão a sério, leia a saga do Guia do Mochileiro das Galáxias - Douglas Adam
  4. Vai voltar pra sampa depois das férias, ouça Highway to Hell - AC/DC
  5. Não vai conseguir se divertir com o banal em 2007, leia O Melhor Livro sobre Nada - Jerry Seinfeld
  6. 07 será um ano igual a 06, ouça Some Might Say - Oasis
  7. Não está pronto para mudar, ouça Um Pequeno Imprevisto - Os Paralamas do Sucesso
  8. Está um pouco deslocada(o), ouça Life of Illusion - Foo Fighters
  9. Se sentir melhor que alguém te ajuda, leia os quadrinhos do Charlie Brown.
  10. Antes de virar o ano, ouça Vamos Passar a Noite de Galera - Bidê ou Balde
Lembre-se: Viver exige um esforço muito maior do que somente respirar.

Segue uma dedicatória ao Mestre, ao Irmão, ao Turco, Gui, Henry, Jatobá, Lambari, aos amigos e amigas, e qualquer pessoa que tenha em algum momento de 2006 cruzado meu caminho, mesmo que seguissemos direções opostas.

Obrigado. Feliz 2007. Até ano que vem.