segunda-feira, julho 17, 2006

Os Tijolos Amarelos e o Lado Escuro da Lua

Se há algo que a Internet trouxe de útil para a sociedade, este talvez tenha sido elevar as teorias conspiratórias a um novo patamar. Agora, a todo instante pipocam novas conspirações de qualquer ato que seja, desde os ataques a São Paulo até o aumento do preço das cortinas verde-musgos. Com a rede, qualquer mortal dotado de um computador e de uma conexão pode criar sua teoria, por mais esquizofrênica que seja, e divulgá-la aos quatro cantos do globo. E graças ao Orkut, os horizontes deste poder de olhar nas entrelinha aumentou numa potência de dez, assim como as futilidades em torno de assuntos (bastante) idiotas que se propagam no ciberespaço.

Porém, uma teoria que intriga até hoje muita gente é a tal da sincronia entre o disco Dark Side of The Moon, da majestosa banda Pink Floyd, e do filme Wizard of Oz, do diretor Victor Fleming. Como toda boa teoria conspiratória que se preze, ela surgiu do nada e expandiu-se como nunca. Em 1997, um dj de uma rádio em Boston disse que o álbum seria uma espécie de trilha alternativa para o filme. Essa notícia começou a se espalhar pelos sites de fãs da banda e causou frisson na Internet. Tanto que algumas semanas depois, as vendas do disco, lançado em 1973, aumentaram consideravelmente - só lembrando que Dark Side... é o 18º disco mais vendido de todos os tempos e permaneceu 74o semanas nas tabelas da Billboard Magazine.

É bastante simples fazer a sincronização. Para começar a experiência transcendental é necessário, logicamente, o filme e o cd. O Cd precisa ser o original, ou seja, não pode ser a reedição de 20 anos do DSoTM nem a edição em SACD. Além disso, não pode ser pirata, pois os intervalos entre as músicas tem que ser perfeitos. Já o filme pode ser pego na Internet, de preferência se aparecer o leão da MGM, porque ele será o ponto de partida. Se não tiver essa introdução, pode se tomar um outro referencial. Mas é preferível o Dvd original.

Para sincronizar, é preciso colocar o disco no pause e esperar até o leão dar o terceiro rugido para soltar o som. Caso a versão não tenha o felino mascote, pode-se tomar como referência o nome do produtor Mervyn LeRoy, que aparece no exato momento em que começa a música Breath. A partir daí, é só abaixar o volume do filme e acompanhar as múltiplas coincidências que acabam rolando. Alguns sites dizem que a sincronia continua até depois que termina o cd, tendo que colocar no "repeat" para continuar acompanhando, mas eu digo que isso já é forçar (e muito) a barra e talvez só fosse possível se Roger Waters fosse filho de Exu.

De fato, esse tipo é um tipo de experiência que vale a pena fazer, nem que por curiosidade. Para quem já assistiu ao filme normal nota-se que, com a sincronização, ele ganha um clima bem mais obscuro. O longa, que já transmite mensagens fortes nas entrelinhas, acaba adquirindo uma atmosfera bastante introspectiva, quase expressionista. Além disso, é interessante notar que certos ruídos ou sons, que não fazem sentido algum no disco, acabam correspondendo com as imagens do filme. Mas fora isso, só de ouvir um dos melhores álbuns já produzidos servindo de trilha sonora para um clássico do cinema já vale todo e qualquer esforço que isso possa acarretar.

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E na próxima edição: uma análise da sincronia entre o disco de estréia do Cordel do Fogo Encantado juntamente com o filme Deus e Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha.


Post em homenagem à Syd Barret (1946-2006).