Piros, o Espírito Pagão do Fogo - pt.1
"Art. 74.: A educação para o trânsito é direito de todos e constitui dever prioritário para os componentes do Sistema Nacional de Trânsito."
Enquanto sonhava estar em uma ilha paradisíaca cheio de odaliscas me entretendo com seus rebolares hipnóticos e mordiscando um belo cacho de uva cedido pelas beldades, estava também aprendendo a como me portar no trânsito caótico de uma cidade grande. Tudo balela, lógico, pois nunca que alguém em sã consciência decoraria todas aquelas trezentas regras de conduta e moral. Principalmente quando se trata de estar desde às sete e meia da manhã de prontidão.
Mas, de fato, minha viagem astral era motivada pelo clima maçante da sala 4 do Centro de Formação de Condutores. Meus pensamentos desconexos pareciam bem mais relevantes do que uma aula de meio ambiente. Portanto, nada como um descanso mental merecido, mesmo sob o olhar repreensivo do finório entitulado professor.
Porém, a viagem durou pouco. Enquanto tramava uma possível caçada aos tubarões numa ilha caribenha, meu celular começou a vibrar com certo escândalo, tirando me daquela realidade alternativa. A princípio, praguejei insanamente, mas logo pensei: "hum, é uma boa chance de matar um tempo lá fora".
Sem delongas, retirei-me e atendi. A pessoa do outro lado da linha me convidava para uma viagem transcendental e passou-me as coordenadas. Eu disse que era uma proposta atraente, e deveras quente, mas só que ainda precisava consultar meus progenitores. Fiquei, então, de ligar de volta assim que pudesse voltar à minha vida normal, porém infelizmente havia uma bela meia hora a ser gasta. Em termos claros, mais meia hora de sono profundo.
E eis que finalmente soa o gongo dos sortilégios. Dou uma dedada no computador e parto rumo ao meu estimado lar. Como dizia o provérbio chinês, muitas decisões movem um homem. De fato, acabei me decidindo por, primeiramente, ir bater um rango. Com a larica que me abatia com vivaz ferocidade, senti estar degustando um manjar dos deuses, quando na verdade nada mais era que um arroz, feijão e bife. Após isso, com o estômago forrado, tento ligar para meus pais. Minha decepção só não foi maior que minha insistência, que logo deu lugar a minha impaciência. Mesmo sem poder dar meu recado, decido por partir com aquela trupe. Afinal, tosse não é desculpa pra peido.
De repente, sem menos, meus colegas de viagem aparecem. Após se abastecerem de álcool, carne e outros quitutes, vieram buscar-me em meu próprio lar. Depois de terminar de fazer minha mala, entramos no carro e, sem remorso algum, partimos para a terra do pecado.
O caminho para a rodovia era realmente extenso. Era praticamente uma pré-viagem. Mas foi bom para notar (mais uma vez) o quão bizarro é esta cidade esdrúxula que vivo. Os contrastes, as contradições e as bizarrices dos transeuntes foram expostas de forma nua e crua durante o percurso. Foi quase como um Diário de Motocicletas em quatro rodas. De fato, não há entropia que meça o caos desta cidade insana. Mas, além disso, também foi bom para notar que o rio Tietê continua cheiroso pacas.
A estrada estava bastante tranquila, sem medos ou delírios aparentes. É de se assumir que para uma primeira vez em rodovia, o motorista até que se saiu bem. E mesmo para o resto dos passageiros - que estavam com o cú na mão (eu, pelo menos, sim) - foi uma viagem sossegada. E digo mais, desconfiavelmente sossegada. Pela lógica, isso teria que dar em merda.
Felizmente, não aconteceu merda alguma. Porém, como o acompanhante do motorista (por favor, sem malícia) do banco da frente aparentava estar fora de si - destaque para suas performances que orgulhariam Freddy Mercury -, passamos boa parte da viagem sem reparar no exterior do carro. Num lapso, o motorista acabou notando que o capô estava semi-aberto, pondo em risco a vida de todos, inclusive dos outros viajantes que compartilhavam a estrada conosco. Parecia ser uma luta fácil, mas o motorista relutava em parar o carro. E a cada minuto que passava, o nosso risco aumentava. Eram quatro vidas em jogo. Mas, logo, a velocidade do veículo cessou e o capô foi devidamente fechado. Assim, continuamos nossa viagem... (continua)
Enquanto sonhava estar em uma ilha paradisíaca cheio de odaliscas me entretendo com seus rebolares hipnóticos e mordiscando um belo cacho de uva cedido pelas beldades, estava também aprendendo a como me portar no trânsito caótico de uma cidade grande. Tudo balela, lógico, pois nunca que alguém em sã consciência decoraria todas aquelas trezentas regras de conduta e moral. Principalmente quando se trata de estar desde às sete e meia da manhã de prontidão.
Mas, de fato, minha viagem astral era motivada pelo clima maçante da sala 4 do Centro de Formação de Condutores. Meus pensamentos desconexos pareciam bem mais relevantes do que uma aula de meio ambiente. Portanto, nada como um descanso mental merecido, mesmo sob o olhar repreensivo do finório entitulado professor.
Porém, a viagem durou pouco. Enquanto tramava uma possível caçada aos tubarões numa ilha caribenha, meu celular começou a vibrar com certo escândalo, tirando me daquela realidade alternativa. A princípio, praguejei insanamente, mas logo pensei: "hum, é uma boa chance de matar um tempo lá fora".
Sem delongas, retirei-me e atendi. A pessoa do outro lado da linha me convidava para uma viagem transcendental e passou-me as coordenadas. Eu disse que era uma proposta atraente, e deveras quente, mas só que ainda precisava consultar meus progenitores. Fiquei, então, de ligar de volta assim que pudesse voltar à minha vida normal, porém infelizmente havia uma bela meia hora a ser gasta. Em termos claros, mais meia hora de sono profundo.
E eis que finalmente soa o gongo dos sortilégios. Dou uma dedada no computador e parto rumo ao meu estimado lar. Como dizia o provérbio chinês, muitas decisões movem um homem. De fato, acabei me decidindo por, primeiramente, ir bater um rango. Com a larica que me abatia com vivaz ferocidade, senti estar degustando um manjar dos deuses, quando na verdade nada mais era que um arroz, feijão e bife. Após isso, com o estômago forrado, tento ligar para meus pais. Minha decepção só não foi maior que minha insistência, que logo deu lugar a minha impaciência. Mesmo sem poder dar meu recado, decido por partir com aquela trupe. Afinal, tosse não é desculpa pra peido.
De repente, sem menos, meus colegas de viagem aparecem. Após se abastecerem de álcool, carne e outros quitutes, vieram buscar-me em meu próprio lar. Depois de terminar de fazer minha mala, entramos no carro e, sem remorso algum, partimos para a terra do pecado.
O caminho para a rodovia era realmente extenso. Era praticamente uma pré-viagem. Mas foi bom para notar (mais uma vez) o quão bizarro é esta cidade esdrúxula que vivo. Os contrastes, as contradições e as bizarrices dos transeuntes foram expostas de forma nua e crua durante o percurso. Foi quase como um Diário de Motocicletas em quatro rodas. De fato, não há entropia que meça o caos desta cidade insana. Mas, além disso, também foi bom para notar que o rio Tietê continua cheiroso pacas.
A estrada estava bastante tranquila, sem medos ou delírios aparentes. É de se assumir que para uma primeira vez em rodovia, o motorista até que se saiu bem. E mesmo para o resto dos passageiros - que estavam com o cú na mão (eu, pelo menos, sim) - foi uma viagem sossegada. E digo mais, desconfiavelmente sossegada. Pela lógica, isso teria que dar em merda.
Felizmente, não aconteceu merda alguma. Porém, como o acompanhante do motorista (por favor, sem malícia) do banco da frente aparentava estar fora de si - destaque para suas performances que orgulhariam Freddy Mercury -, passamos boa parte da viagem sem reparar no exterior do carro. Num lapso, o motorista acabou notando que o capô estava semi-aberto, pondo em risco a vida de todos, inclusive dos outros viajantes que compartilhavam a estrada conosco. Parecia ser uma luta fácil, mas o motorista relutava em parar o carro. E a cada minuto que passava, o nosso risco aumentava. Eram quatro vidas em jogo. Mas, logo, a velocidade do veículo cessou e o capô foi devidamente fechado. Assim, continuamos nossa viagem... (continua)
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