domingo, novembro 27, 2005

Aconteceu de novo!

Onde foi parar a maestria das relações humanas que uma vez existiu?
Ela cessou quando o homem mostrou a face esquerda para o interesse e com a direita apontou para amigos e inimigos desprovidos de inveja ou duas caras. Os que se sentem injustiçados tratam seus problemas (ou soluções?) com a traição.
Lucille praticava a profissão mais antiga da civilização ocidental (se não do mundo inteiro) e tinha em seu trabalho um SENHOR sustento. Seu marido, um travesti enrustido, lhe espancava todas as noites para pegar o dinheiro que ela conseguia dando o rabo para todos os patrões da cidade, que se prezavam a tomar porres de whisky enquanto acendiam seus charutos cubanos com zippo.
Um dia Anthony, um aposentado na casa dos 50, reparou Sandy (o marido da prostituta) batendo em Lucille num beco escuro ao lado da casa de burlesco onde ela trabalhava. Anthony logo pensou que se tratava de um homem querendo satisfazer seus impulsos com uma mulher do ramo sem necessariamente pagar por isso. Sempre um gentleman, Anthony logo sacou seu treisoitão e deu uma coronhada em Sandy. O traveco desmaiou (se pudesse, surtaria graças aos "gracejos" da homossexualidade, mas tratou logo de cair sem dar chilique) e Lucille explicou a situação do casal para Anthony. Ele, húmil como é, ofereceu sua casa para que ela passasse a noite (e o fez sem nenhuma pretensão carnal) e explicou para a puta que deveria deixar o downtown por uns tempos para se alocar no subúrbio, evitar a marginalidade do centro e a fúria de seu (sua) marido.
Lucille agradeceu a proposta e por um momento pensou em recusá-la. Isso ficou aparente no espasmo que deu, e Anthony, observador como só ele é, a fez aceitar a sugestão. Entraram então no carro de Anthony. Ele dirigiu por uma meia hora até chegar no mercado, onde comprou uma daquelas massamordas congeladas e um sixpack de cerveja. Entraram no carro e ele dirigiu mais 10 minutos até chegar em casa. Tudo muito simples. Uma suíte, um escritório, cozinha pequena e uma sala de estar. Servia bem para alguém que vivia sozinho, como era o caso de Anthony naqueles dias. Ele já havia se casado, mas a esposa falecera.
Eles jantaram, conversaram, beberam as seis cervejas, perceberam que só meia dúzia de loiras não bastaria e abriram o vinho. Ela ficou zuca. Ele ficou alto. E os dois se amaram. Foram para a cama, ele tomou a pílula azul, ela mostrou sua experiência, e os dois foderam. Lucille deu o maior cansaço no velhote mas ele sobreviveu à noite. Tremor maior viria na manhã, quando Anthony acordou sem tê-la ao seu lado. Não só perdera a mulher como ela também lhe levara o dinheiro e o carro.
Anthony foi ao centro da cidade naquela noite. Pedira o carro de um amigo emprestado para ir ao prostíbulo (não qualquer prostíbulo, e sim aquele onde encontrara Lucille e o travesti). Como suspeitava, encontrou seu carro parado naquele beco, e não muito distante do carro estavam os dois. Anthony tratou de sacar seu trabuco e desceu bala nos dois filhos-da-puta. Cavalheirismo tem limite. Anthony foi embora, voltaria outro dia para pegar o carro.
O que realmente importa é que aconteceu de novo! Mais uma vez uma pessoa usou outra para conseguir o que era de seu interesse. É triste ter uma segunda impressão de alguém, para depois descobrir que deveria ter ficado com a primeira. Isso foi o que Anthony descobriu. Ele devia lembrar-se que Lucille realmente era uma puta, e nada mais.