segunda-feira, setembro 26, 2005

Bendito seja os colhões

Em um vilarejo, a muitos kms da capital, um menino tinha o inusitado apelido de "colhões de ferro". Não porque ele de fato tivesse testículos de metal, mas porque suas atitudes não eram de uma pessoa considerada normal. O garoto tinha tal desprendimento à vida que deixaria um kamikaze embasbacado. Respeito a hierarquia era algo inexitente em seu vocabulário, não importando se fosse professor, policial, papa ou traficante do morro. Mas suas habilidades não apareceram repentinamente. Quando tinha 10 anos, durante um jogo de verdade ou desafio, ele foi designado a jogar um papel higiênico usado no diretor da escola; e assim o fez. Desde então melhorava a cada dia, sempre com um desafio novo na cabeça.

Até que um dia, uma nova figura apareceu na cidade. Um homem abastado (dizem ser grileiro) aparece com seu rebento. O menino parece nada aparentar de especial, mas em poucos dias recebe a alcunha que lhe é merecida: "colhões de ouro". Isso se deve a dois fatores: primeiro que o moleque se mostrava muito mais ousado que seu colega; e segundo porque de fato tinha um par de testículos artificiais em suas calças, que foi comprovada quando este, desafiado, abaixou as calças e deu um peteleco em sua bolsa escrotal, produzindo um som tintilar.

A rivalidade aumentava a cada novo ato, para o delírio da criançada. Todas as leis estritas de convivência eram rasgadas em praça pública. Os poucos que detinham autoridade eram rebaixados moralmente, invertendo a ordem social. Mas faltava um último embate. Um duelo cara-a-cara.

Após o fim da aula, um chegou pro outro e chamou para uma partida de truco. Tal qual na guerra fria, nunca houvera esse tipo de contato. Todos sabiam que ia dar em alguma merda. Por isso a espectativa foi geral.

Eles se reuniram na frente da pracinha da cidade. Seria um jogo individual, pois ninguém queria se intrometer no desafio. De ouro deu as cartas. De ferro pegou as suas. Virou damas. "Mas que merda", pensou de ferro, que tinha um As, uma outra dama e um 5. "Truco, porra", falou seu meticuloso adversário. "Cai, cuzão", respondeu, mesmo não tendo porra nenhuma. De ouro jogou um 7 e de ferro fez com sua dama. Então ele pediu 6, que foi aceito com convicção por de Ouro. "Puta merda, fodeu", pensou o garotinho. Então, ele joga seu 5, que é massacrado por um rei. Na última rodada, de Ouro pede 9. Com o cu na mão, mas convicto a não perder a fama para seu rival, de ferro pede 12. Ele aceita e joga um As. Nessa hora, de ferro quase tem um orgasmo. Ele mela a rodada e consagra-se o campeão da batalha. E ainda por cima, descobre que seu rival é um pato jogando truco. Com o poder das massas na mão, ele decide retirar o psudônimo de seu desafeto junto com um chute bem dado em suas partes internas. De repente, este começa a se contorcer e a falar fino, para o espanto dos presentes. "Ahá, ele é uma farsa. Colhões de Ouro é o caralho". Isso foi demais para ele. Nunca mais saiu de casa e tampouco falou grosso na vida. A partir dali, derrubou-se um mito e criou-se outro.