No Tempo em que Víamos Gigantes

Aos olhos de um leigo, o Supercatch era somente um programa de luta-livre, organizado pela World Wrestling Federation (WWF), no qual lutadores vestidos de maneira bizonha competiam em combates arranjados para saber quem era o "Maioral dos Ringues". Mas para mim e para muitas outras crianças, aquilo ia muito além da porradaria incessante. Aquilo era quase um estilo de vida.
Eu devia ter uns 8 ou 9 anos na época e, como qualquer garoto normal, já era sedento por violência e sangue. Por isso, ver um bando de marmanjões se estapeando era demais para o meu pequeno instinto maligno. Cada luta era única, nunca se sabia como iria terminar: era uma caixinha de surpresas, dizia-se. E como não falar das técnicas dos lutadores? Cada uma mais apurada do que a outra, que iam muito além da velha técnica de pegar uma cadeira de metal da platéia para espatifar sobre o crânio do oponente. Cada lutador tinha seu movimento fulminante, que deixava o adversário totalmente aturdido e sem reações, pronto para tomar o golpe de misericórdia. De fato, é por essas e outras que eu sinto que o Supercatch ajudou em muito a formar o meu caráter, assim como os Comandos em Ação, o Mortal Kombat e o Loucademia de Polícia. Penso que é esse tipo de influência que diferencia os homens dos estudantes de moda.
WrestleMania: uma breve história

Daí, depois de trocentas mudanças de nomes e de fusões com outros órgãos reguladores de wrestling, eis que surge a WWF e seu evento mais conhecido: a WrestleMania. Nele lutaram figuras famosas como o saudoso Mr. T (do Esquadrão Classe A) e o ultracampeão Hulk Hogan - isso até o cara ser mandado embora por ganhar de meio mundo.

Porém, a fama e a fortuna trouxeram, além de glórias, muitos problemas para a instituição. Escândalos envolvendo abuso sexual e uso de esteróides começaram a pipocar na imprensa. Então, para cobrir o buraco que os processos acarretavam (o rombo foi estimado em 5 milhões de verdinhas), os idealizadores tiveram que cortar vários benefícios dos lutadores. Daí, boa parte destes decidiram trocar pontapés no rival World Championship Wrestling (WCW). Sem outra solução, a cartolagem da WWF resolveu apostar na prata da casa, lançando uma nova safra de lutadores. E foi essa a época que fez a alegria da gurizada tupiniquim.
Afinal, como não lembrar do fabuloso Razor Ramón, aquele cubano safado que lutava com um palito de dentes na boca? Ou do cruel índio-americano Tatanka, cujo principal golpe fora traduzido no Brasil como Tapanka, que nada mais era que um tapa violentamente desferido contra o rosto do oponente? Ainda havia também o galã Shawn Michaels "The Heartbreaker Kid", que era dono de uma técnica apurada e sempre estava rodeado por belas messalinas. Além disso, havia o magnata "Million Dollar Man" Teddy diBiasi, que fazia a dupla jornada de manager e lutador e estava sempre pronto para defender seus afilhados das mais diversas enrascadas.
Isso sem falar também no destruidor Diesel, no soturno Undertaker e no palhaço Doink - que tinha uma miniatura própria conhecida como palhaço Dink. Também haviam lutadores "estrangeiros" como o inglês British Bull Dog e o nipônico peso-pesado Yokozuna. Enfim, tinha gente para o mais eclético dos gostos.
Mas daí, as coisas mudaram. As palhaçadas do Doink não agradavam mais e as lutas já estavam ficando escancaradamente arranjadas. Então eles reciclaram tudo e fizeram novos formatos de luta. Mas antes, a World Wrestling Federation enfrentou novamente os tribunais, dessa vez para saber quem ficaria com a famosa sigla: eles ou a World Wildlife Foundation. Os ambientalistas ganharam a parada e a organização passou a se chamar World Wrestling Entertainment (WWE). Só que nesse meio tempo, a TV Manchete já tinha quebrado e nunca mais pude acompanhar os embates - até porque o Gigantes do Ringue era ruim demais.

3 Comments:
Brilhante! Foi um momento nostálgico!
Mas faço ressalvas... primeiro: Hulk Hogan se apresentava nos ringues como Hulk "Hollywood" Hogan
Em segundo lugar: Porque deixou de lado o "Lata de Lixo"?!?! Aquele cara era demais! Eternizou o Supercatch arremessando (é claro) cestos metálicos de lixo contra seus oponentes...
Fora isso, tá de parabéns!
Ah, o Lata de Lixo. Um homem tão pacato, mas tão desprezado pela sociedade. De fato, ele fez história no mundo do wrestling. Chocou os neo-conservadores com seu poder destrutivo. Pena que nunca teve o merecido reconhecimento.
O CARA DA LATA DE LIXO ERA "O GARI".
FALTOU COMENTAR SOBRE O MAIS AMERICANO DE TODOS... LEX LUGER, QUE LUTAVA COM AS CORES DA BANDEIRA DOS ESTADOS UNIDOS
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